
QUANDO NÓS, OS MORTOS, DESPERTARMOS de Henrik Ibsen
António Simão
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|Drama
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90 minutos
Sinopse
Quando nós, os Mortos, Despertarmos é a última peça escrita por Henrik Johan Ibsen, em 1899, num ambiente pessimista fin-de-siécle, anti-vitoriano, ressalvando o papel da arte e da mulher. Em tom de despedida a peça evoca ainda assim alguns temas recorrentes nas suas peças. O papel da mulher numa sociedade onde a prerrogativa é masculina. A história de uma mulher cuja vida e sonhos são destruidas por um artista que expôs a sua nudez como objecto artístico, relativizando a sua própria existência enquanto ser social, humano e complexo.
Ibsen cria uma espécie de alter-ego, o escultor Arnold Rubek, que depois de muitos anos no exílio regressa à Noruega para passar o Verão numa estância balnear com a sua esposa Maja, uma mulher que não o satisfaz por não ter sensibilidade artística. Apesar da fama e do sucesso alcançado, Rubek sente uma enorme frustração, porque conclui que, ao abrir mão do amor e da vida, acabou traindo a sua arte. Imbuído de sentimento trágico por ter sacrificado tudo em nome de um ideal, reencontra Irene, a mulher que lhe serviu de modelo e inspiração para a criação de uma escultura que batizou de O Dia da Ressurreição, considerada uma obra prima pelos críticos. Irene afasta-se de Rubek por não se sentir correspondida nos seus afetos surgidos quando desnudou o seu o corpo e alma para o escultor. Coma ausência de Irene, Rubek entra em desespero acreditando ter perdido o seu dom - a criatividade artística. Quando Rubek reencontra Irene na estância balnear, ela acusa-o de lhe ter roubado a alma e sugado a energia vital.
Ibsen dominou o início dos movimentos artísticos no início do séc. XX. A representação de diferentes formas de subjetivação torna-se uma das principais fronteiras expressivas e, nesse sentido, Ibsen promove uma reflexão sobre a nova subjetividade. Com a intenção de revelar, no espaço da escrita dramática, a paisagem interna das personagens que se deparam com anseios e desejos que, muitas vezes, elas mesmas não compreendem, Ibsen envolveu-se com todos os movimentos artísticos de seu tempo, desde o simbolismo até o expressionismo e surrealismo, cujos representantes investigavam as profundezas da psique a partir de ideias difundidas por Kierkegaard, Nietzsche e, sobretudo, Freud.
As personagens em Ibsen, a Burguesia na sua plenitude, os grandes arquitectos, os grandes engenheiros, os grandes artistas (como neste caso) escondem segredos. Por baixo dos soalhos dos solares, por baixo do gelo dos lagos do norte, há pecados – crimes, roubos, apropriação do trabalho dos outros, adultério, traições... e, com o degelo voltam os fantasmas do passado.
Todo o ódio, toda a amargura, todo o arrependimento vem de trás, do passado, de sentimentos amontoados.
A mulher, no centro da trama de Quando nós, os Morto,s Despertarmos, como em Hedda Gabler, mas aqui já vencida, já vítima mas ainda movimentando a acção resultante de actos do passado. Outrora musa, outrora representando a pureza do gesto primeiro, de uma arte ainda não conspurcada, uma arte ainda não sacrificada aos gostos e aspirações da sociedade. Em Quando Nós os Mortos Despertarmos, a mulher/modelo é sacrificada pela arte do escultor e a sua alma de mulher é desperdiçada para gratificar a imaginação e estimular a alma do artista.
Ficha Técnica
- Encenação
- António Simão
- Texto
- Henrik Ibsen
- Companhia
- Teatro da Terra