Gaivota

Numa carta a Aleksei Suvórin, datada de 1895, Tchékhov comenta que está a escrever uma nova peça: “É uma comédia com três papéis femininos, seis masculinos, quatro atos, uma paisagem (vista para um lago); muita conversa sobre literatura, pouca ação, cinco arrobas de amor.” A peça estreou no ano seguinte, em São Petersburgo, com o título A Gaivota. Nessa altura, foi um fiasco. Mas o grande teatro voa e a estranha “comédia” depressa se tornou um dos maiores clássicos da literatura dramática. Ao palco do Teatro São João chega-nos agora uma adaptação livre da obra de Tchékhov que o encenador argentino Guillermo Cacace ergue com um elenco exclusivamente feminino. Uma versão que se propõe “alcançar o sublime do original a partir de um sussurro, captando o essencial e tudo o que não pode ser dito por palavras, mas que está lá, à superfície”. Apetece dizer, citando o poeta Tréplev, protagonista da peça: “Isto é que é um teatro.”