Sinópse
Como se constrói uma conversa entre um Capitão Ambrósio e uma Grândola Vila Morena? A essência do que é ser-se crioulo, no contexto mais cabo-verdiano que poderia haver, facilmente se entende com esta questão e resolve-a com a mesma naturalidade com que Cabo Verde, ao longo da sua história, se foi apropriando de forma quase descarada de múltiplas referências nas mais diversas geografias e foi moldando a sua matriz identitária, num processo que nunca chegará ao fim da estrada. Talvez o resultado mais preciso para sintetizar este espetáculo numa questão temática seja o seguinte: “Poderá um único evento estabelecer valores como a liberdade e a justiça?” A nossa resposta dramática é um rotundo “não” Como o explicita a nossa Pura: “As revoluções são, por definição, eventos extraordinários e todo o evento extraordinário tende a ser seguido pela regressão ao corriqueiro. Logo que se acalme a agitação das águas, quem esteve no topo da pirâmide do poder já lhe conhece as escadas”. No texto original, Germano Almeida ilustra-o no pensamento e na voz de outra mulher - Susana:” [...] poucos anos após o 25 de Abril, as forças do grande capital, que ou eram fascistas ou tinham apoiado o regime fascista, estavam de novo no poder [...]”
Liberdade e justiça parecem ser o topo de um declive escorregadio. Não existe possibilidade de repouso no topo do declive - apenas o progressivo regredir para a base do abismo sempre que se para de avançar para o topo. O teatro - o tipo de teatro que escolhemos abraçar - representa esta voz que, neste tempo “de gritos, gritadores e muitos pontos de exclamação”, fala aos que adormecem no declive, aos que, embalados no conforto, se esquecem de nadar, para que a liberdade não morra a mais ridícula das mortes. Um teatro que abraça as “cíclicas oportunidades de se encontrar Abril ou de se ser Ambrósio”. Se não for hoje, amanhã nos desforraremos.
Ficha Técnica
Interpretação | Manuel Estêvão, Matísia Rocha, Pedro Lamares e Sócrates Napoleão
Direção Musical | Sócrates Napoleão
Cenografia | João Branco
Figurinos | Janaina Alves
Desenho de Luz | César Fortes
Produção | Joaquim Madail e Janaina Alves
Design Gráfico | Nuno Miranda e João Branco
Fotografia | Pedro Sardinha (FITEI)
Apoio à Residência de Escrita | Associação Caboverdiana de Lisboa
Apoio à Residência de Criação | CRL Central Eléctrica
Apoio à Criação de Figurinos e Cenografia | Teatro do Noroeste / CDV
Difusão e promoção | Companhia Nacional de Espetáculos
Apoios | DGArtes – Direção Geral das Artes e Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de abril
Sessões
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